As postagens e as fotos permitem que o público acompanhe a criação do espetáculo. O feed back dos convidados para os ensaios abertos são muito importantes para a companhia. A estréia deve acontecer no começo de 2012.
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
ROMANCE DA GUARDA CIVIL ESPANHOLA
OS CAVALOS NEGROS SÃO.
AS FERRADURAS SÃO NEGRAS.
SOBRE AS CAPAS RELUZEM
MANCHAS DE TINTA E DE CERA.
TÊM, E POR ISSO NÃO CHORAM,
DE CHUMBO SUAS CAVEIRAS.
COM SUA ALMA ENVERNIZADA
LÁ VÊM ELES PELA ESTRADA.
ENCURVADOS E NOTURNOS,
POR ONDE ANIMAM, ORDENAM
SILÊNCIOS DE GOMA ESCURA
E MEDOS DE FINA AREIA.
PASSAM, SE QUEREM PASSAR,
E OCULTAM NA CABEÇA
UMA VAGA ASTRONOMIA
DE PISTOLAS INCONCRETAS.
OH! CIDADE DOS GITANOS!
PELAS ESQUINAS BANDEIRAS.
A LUA E A CABAÇA
COM AS GINJAS EM CONSERVA.
OH! CIDADE DOS GITANOS!
CIDADE DE DOR E ALMÍSCAR,
COM AS TORRES DE CANELA.
QUANDO CHEGAVA A NOITE,
NOITE QUE NOITE NOITEIRA,
OS GITANOS NAS BIGORNAS
FORJAVAM FLECHAS E SÓIS.
UM CAVALO MORIBUNDO
CHAMAVA EM TODAS AS PORTAS.
GALOS DE VIDRO CANTAVAM
EM XEREZ DE LA FRONTERA.
O VENTO DOBRA DESNUDO
A ESQUINA DA SURPRESA,
NA NOITE DE PRATA E NOITE
NOITE, QUE NOITE NOITEIRA.
A VIRGEM E SÃO JOSÉ
PERDERAM AS CASTANHOLAS,
E PROCURAM OS GITANOS
PARA VER SE AS ENCONTRAM.
A VIRGEM CHEGA VESTIDA
COM UM TRAJE MUITO RICO
DE PAPEL DE CHOCOLATE
E COM COLARES DE AMÊNDOAS.
SÃO JOSÉ OS BRAÇOS MOVE
SOB UMA CAPA DE SEDA.
ATRÁS VÃO PEDRO DOMECQ
E MAIS TRÊS SULTÕES DA PÉRSIA.
A MEIA LUA SONHAVA
UM ÊXTASE DE CEGONHA.
ESTANDARTES E FARÓIS
INVADEM AS AÇOTÉIAS.
PELOS ESPELHOS SOLUÇAM
BAILARINAS SEM QUADRIS.
ÁGUA E SOMBRA, SOMBRA E ÁGUA
POR XEREZ DE LA FRONTERA.
OH! CIDADE DOS GITANOS!
PELAS ESQUINAS BANDEIRAS.
APAGA TUAS LUZES VERDES
QUE VEM VINDO A BENEMÉRITA.
OH! CIDADE DOS GITANOS!
QUEM TE VIU E NÃO TE LEMBRA?
QUE A DEIXEM LONGE DO MAR
SEM PENTE PRA SUAS RISCAS.
AVANÇAM DE DOIS AO FUNDO
PARA A CIDADE DA FESTA.
UM RUMOR DE SEMPRE-VIVAS
AS CARTUCHEIRAS INVADE.
AVANÇAM DE DOIS AO FUNDO.
DUPLO NOTURNO DE TELA.
O CÉU A ELES PARECE
UMA VITRINE DE ESPORAS.
A CIDADE, LIVRE DE MEDO,
AS PORTAS MULTUPLICAVA.
QUARENTA GUARDAS-CIVIS
PARA O SAQUE NELAS ENTRAM.
JÁ PARARAM OS RELÓGIOS
E O CONHAQUE DAS GARRAFAS
SE DISFARÇOU DE XAROPE
PARA NÃO ESPALHAR SUSPEITAS.
UM VÔO DE GRITOS LONGOS
NOS CATAVENTOS SE ERGUEU.
OS SABRES CORTAM AS BRISAS
QUE OS CASCOS ATROPELAM.
PELAS RUAS DE PENUMBRA,
FOGEM AS GITANAS VELHAS
COM OS CAVALOS DORMIDOS
E AS VASILHAS DE MOEDAS.
PELAS RUAS EMPINADAS
SOBEM AS CAPAS SINISTRAS,
DEIXANDO POR TRÁS FUGAZES
REDEMOINHOS DE TESOURAS.
LÁ NO PORTAL DE BELÉM
OS GITANOS SE CONGREGAM.
SÃO JOSÉ, TODO FERIDO,
AMORTALHA UMA DONZELA.
TEIMOSOS FUZIS AGUDOS
PELA NOITE INTEIRA SOAM.
A VIRGEM CURA OS MENINOS
COM SALIVINHA DE ESTRELA.
PORÉM, A GUARDA-CIVIL
AVANÇA SEMEANDO FOGO,
ONDE JOVEM E DESPIDA
SE QUEIMA A IMAGINAÇÃO.
ROSA, A DOS CAMBÓRIOS,
GEME À SUA PORTA SENTADA,
COM SEUS DOIS SEIOS CORTADOS
E POSTOS NUMA BANDEJA.
E OUTRAS MOCINHAS FUGIAM
SEGUIDAS DE SUAS TRANÇAS,
NUM AR ONDE ESTALAVAM
ROSAS DE PÓLVORA NEGRA.
QUANDO TODOS OS TELHADOS
ERAM SULCOS PELA TERRA,
A AURORA MOVEU SEUS OMBROS
EM LONGO PERFIL DE PEDRA.
OH! CIDADE DOS GITANOS!
A GUARDA-CIVIL SE AFASTA
POR UM TÚNEL DE SILÊNCIO
ENQUANTO AS CHAMAS TE CERCAM.
OH! CIDADE DOS GITANOS!
QUEM TE VIU E NÃO TE LEMBRA?
QUE EM MINHA FRENTE TE BUSQUEM.
JOGO DE LUA E DE AREIA.
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